A vida de Seu Sebastião não tem sido fácil. Ele tem 46 anos e mora
em uma casinha simples, de apenas um cômodo, no bairro Rosele, em Araçatuba.
Estudou até a primeira série do Ensino Fundamental e mal sabe escrever o
próprio nome. Já tinha ouvido falar dele. Na semana passada, quando esteve em
meu programa de rádio, a coordenadora da Ecotenda, Clariana Zanutto, havia me falado
sobre a história de Seu Sebastião.
Seu Sebastião vive neste cômodo, no bairro Rosele |
No domingo, quando estive no projeto, tive a oportunidade de
conhecê-lo. Vi de perto o que é viver na extrema pobreza. A casa dele, na
verdade, é apenas uma construção inacabada. Dentro dela, apenas o que cabe. Uma
cama simples, uma dispensa praticamente vazia, um guarda roupa com poucas
peças, uma televisão com defeito e um radinho pequeno. O telhado danificado
justifica as marcas de infiltração pelas paredes. “Tudo o que tenho é ganhado”,
disse Seu Sebastião.
"Tudo o que tenho é ganhado", disse Seu Sebastião |
Não eram nem 11 horas da manhã e já era possível notar sinais de
embriaguez. Infelizmente, ele não consegue deixar o vício sozinho. “Tem pessoas
que debocham de mim”, revelou. Durante a nossa conversa, ele me disse que os
irmãos o ignoram pelo fato de ser alcoólatra. “Mas eu vou parar de beber, tenho
fé. Minha vida vai ser outra”, acredita.
Durante todo o tempo, me chamava de “patrão”, “senhor” e “cidadão”.
Mostrou dificuldade para guardar o meu nome. Abriu a carteira quando perguntei
o nome dele completo. Quis me mostrar o RG. Foi neste momento, que um cigarro
caiu de dentro dela. Imediatamente, o pegou e disse: “Não quero mais saber
disso”. E jogou no quintal.
Perguntei ao Seu Sebastião quanto ele tinha na carteira para
passar o domingo. Abriu novamente e pegou as moedinhas: R$ 0,70. Disse que era
para tomar mais uma dose, mas me garantiu que não faria isso. Falei pra ele: “Esqueça
a bebida, Seu Tião”. A comida que ele tem de vez em quando é doada por
vizinhos. Quando não, recebe uma cesta básica da Prefeitura.
Seu Sebastião mostra a dispensa quase vazia |
Como vive em apenas um cômodo, ele não tem sequer um banheiro.
Decidiu improvisar um no meio do quintal. Para tomar banho, ele usa um balde.
Todos os dias, esquenta a água em um fogãozinho que ele mesmo montou e se vira
como pode. Os voluntários da Ecotenda disseram que vão construir um banheiro
para Seu Sebastião ter um pouco mais de privacidade. As obras devem começar em
breve.
Este é o banheiro improvisado no quintal da casa dele |
Este é o fogão improvisado que Seu Sebastião usa |
A bebida está destruindo a vida de um homem que tem consciência
disso. Ele sabe que sozinho não pode parar. Maior que a força de vontade dele é
a má companhia de pessoas que não estão nem aí para o problema. Muitas vezes, o
ser humano é assim: indiferente. É aquela velha história do “se não é comigo,
que se dane o resto”.
Fiquei quase uma hora conversando com o Seu Sebastião. Enquanto
ele respondia às minhas perguntas, eu pensava numa série de coisas. Sabia que
quando chegasse em casa, por exemplo, a mesa do almoço estaria pronta. Enquanto
ele, assim que eu virasse as costas, iria para um bar. Outra coisa que me
chamou a atenção foi a confiança que ele teve em mim. Não me conhecia e mesmo
assim permitiu que eu entrasse na casa dele e o enchesse de perguntas.
Seu Sebastião vive uma situação de extrema pobreza |
Ao me despedir, já no quintal daquela casa simples, Seu Sebastião
olha pra mim e diz: “Vamos fazer uma oração em casa?”. Fiquei alguns segundos
calado e respondi: “Claro, vamos!”. Sem graça, pedi a ele que me desse um
minuto para chamar uma colega que me ajudaria na missão. Corri e gritei a
Renatinha. Ela foi comigo até a casa e rezou pela vida dele. Era nítida a
inquietação dele. Parecia estar perturbado. No final da oração, os olhos dele
estavam cheios de lágrimas. “Estou emocionado”, revelou.
Quando fui embora, apenas disse: “O senhor precisa parar de beber
e largar o cigarro. Tem que querer ser ajudado”. Saí de lá com a promessa dele
de que abandonaria os vícios. Mas sabia que isso era da boca pra fora. Tanto
que voltando pra casa passei em frente a um bar e o vi sentado com um garrafa
de cerveja. Apenas pensei: “Ele está doente e precisa de ajuda”.
6 comentários:
Impossível ler seu texto e não se emocionar com a história do Sr. Sebastião. Uma vida sofrida e muito triste! Mesmo com tudo isso, ainda te convidou para uma oração..impressionante!
Agora...parabéns pelo texto. Muito bom, incrível como consegue colocar aqui, todas as emoções sentidas durante essa rápida conversa.
Lendo..parece que estou no local, acompanhando tudo da maneira que descreve. Parabéns! Estarei sempre acompanhando aqui, meu amigo!
Abraço!
Mais uma vez um texto maravilhoso. Impactante!
É incrível ver a história do Seu Tião contada de uma forma tão clara e emocionante!
Oro hoje tanto pela vida do Seu Tião, quanto pela sua vida, Lucas!
Parabéns!
Abraços!!!
Olá, Thiago! Obrigado por sua visita ao blog. Fiquei bastante impressionado com o que presenciei. É a vida como nunca tinha visto antes. Obrigado pelo apoio, cara! Abraço.
Cléber, mais uma vez, obrigado pela visita ao blog. Que bom que vc gostou do texto! Seu Tião precisa muito de ajuda. Agradeço suas orações. Grande abraço, boa semana! Volte sempre.
Lucas...esse texto me emocionou e além disso, me fortaleceu e ainda pensei: vale a pena continuar! É tão bom saber q existem pessoas como vc q tb se sensibilizam c esta triste realidade de nosso país! Olha q legal o q diz este versículo: "Mas os pobres nunca serão esquecidos, nem se frustrará a esperança dos necessitados" (Salmos 9:18).
Parabéns pelo texto!!
Clariana, muito obrigado por sua visita aqui no blog. E por favor: não desista. Aliás, incentive e motive cada vez mais os voluntários da Ecotenda. Pessoas como Seu Sebastião precisam muito de vocês. Sábio versículo. Abração!
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